Os Loucos Estão Certos

Os loucos estão certos
Os certos estão fartos
Os fartos são modernos com os pés no chão
Os sogros estão pobres
Os pobres estão mortos
Os mortos são vivos em preservação
O bairro está cheio
As cheias estão à porta
O António das chamuças mudou de canal
Os loucos estão certos
É preciso ouvi-los
Foram avisados, não nos querem mal

Os loucos estão parvos
Os parvos estão no trono
O trono que era benção deu em maldição
Os trilhos estão cruzados
A fome aí à espera
O tio veio ao casório para insultar o irmão
Os padres comem putos
Os putos comem ratos
Na Igreja de São Torpes hoje há bacanal
Os loucos estão certos
É preciso ouvi-los
Foram avisados, não nos querem mal

Ai, ai, ai
Já que a gente se habitua, óai
Ai, ai, ai
Já que a borga continua
Já que o ritmo não recua
Seja o filho avô do pai

Os loucos estão certos
Os certos estão fartos
Os fartos são modernos com os pés no chão
Os trilhos estão cruzados
A fome aí à espera
O tio veio ao casório para insultar o irmão
Os padres comem putos
Os putos comem ratos
Na Igreja de São Torpes hoje há bacanal
Os loucos estão certos
É preciso ouvi-los
Foram avisados, não nos querem mal

Ai, ai, ai
Já que a gente se habitua, óai
Ai, ai, ai
Já que a borga continua
Já que o ritmo não recua
Seja o filho avô do pai


Informações:
Disponível no álbum Virou! (2009) e no EP Dona Ligeirinha (2009).
Letra: Jorge Cruz. 
Música arranjada por Diabo na Cruz a partir de canções de Jorge Cruz. 
Produzido por Jorge Cruz. 
Co-produzido por B Fachada e Nelson Carvalho. 
Misturado e masterizado por Nelson Carvalho. 

Curiosidades:
No prefácio do livro Todos Iguais, Todos Diferentes de Morais de Carvalho, Jorge Cruz fala sobre a canção: «Escrevi "Os Loucos Estão Certos" quase sem querer, de um jorro, estacionado junto aos bombeiros da Rua das Flores, no Chiado. A frase título soou-me bem, fiz a canção e nunca mais pensei sobre o assunto. Se tivesse de analisá-la diria que é uma canção sobre não pertencer. É uma canção sobre mudar de perspectiva em relação ao discurso vigente. Sobre a iluminação de poder ver o mundo de uma outra maneira. É também sobre a hipocrisia alojada nas traseiras do quotidiano. Sobre o sofrimento. Sobre família e religião. No fundo, é sobre a incoerência e a imperfeição de ser-se humano.»

 Em 2015, Jorge Cruz elegeu "Os Loucos Estão Certos" como a melhor canção que já escreveu: «Sem pensar muito, e precisamente por não ter pensado muito a fazê-la. Eu sou uma pessoa cerebral e posso demorar muito tempo a acabar uma canção e a pensar em todos os detalhes do que se está a passar ali. Escrevi esta quando estava à espera do Bernardo Barata no carro. Não fazia ideia por que estava a escrever aquilo daquela maneira. Os Loucos Estão Certos é uma música que faz sentido. Escrevi-a muito rapidamente, não é coisa que faça com frequência. Acho que apanha uma verdade. E na verdade não faço ideia do que a música diz, e gosto disso também.»

• Jorge Cruz sobre o verso "os padres comem putos, os putos comem ratos, na igreja de São Torpes hoje há bacanal": «Tive a sorte de frequentar o Colégio [do Sagrado Coração de Maria] na primária, a irmã Beatriz, minha professora, teve uma grande influência na minha educação. Agora, quem sou eu para carregar na consciência o peso do mundo? Não fui eu que o inventei. O mundo tem aspectos bonitos e outros terríveis e eu limito-me a escrever canções sobre isso.» 

 Jorge Cruz entra no filme Calor e Moscas a cantar “Os Loucos Estão Certos”. Jorge Cruz: «Tive prazer em participar pelas pessoas que estavam envolvidas na rodagem. Em particular o Bernardo 'Matador', que fez um disco maldito e é um grande personagem a quem dedico respeito.»  

• "Os Loucos Estão Certos" faz parte da banda sonora da telenovela Os Nossos Dias. 


Comentários: 
• «A "falta de vergonha" destes cinco músicos leva-os até onde poucos ousariam: ao folclore. Os Loucos Estão Certos é o epicentro de um primeiro mapa de quatro canções que deixa água na boca para o que virá a seguir. E só por autismo não se tornará numa das grandes canções do ano.» Disco Digital